Uma facção criminosa extremamente cruel e com práticas mais violentas que o Comando Vermelho (CV) acaba de desembarcar em território baiano. Trata-se do TCP, o Terceiro Comando Puro, que também é oriundo do Rio de Janeiro. O grupo nasceu após um rompimento entre lideranças do CV e já comanda o tráfico de entorpecentes em vários estados do país, a exemplo do Espírito Santo, que faz divisa com a Bahia na região do extremo sul.
Vídeos que circulam , na manhã deste sábado (19/08), mostram criminosos fortemente armados, no município de Santo Amaro, no recôncavo baiano. Eles exibem muros pichados com as siglas do Bonde do Maluco (BDM) e TCP, além da frase ‘Tudo 3’. “Bonde do Maluco e TCP, quebrando e amassando. Santo Amaro! Tamo aqui no ‘Miolo’. Olha lá a bandeirona. Tudo nosso”, diz um ‘soldado do tráfico’.
Documentos obtidos pelo Informe Baiano com exclusividade e ainda apurações com integrantes das polícias Federal, Civil e Militar revelam os bastidores do submundo do crime. O BDM iniciou um rompimento com o cartel Primeiro Comando da Capital (PCC), até então seu principal fornecedor de drogas e armas, no mês de Julho. Em seguida, algumas ‘Torres’ da facção baiana iniciaram diálogos com o TCP.
O BDM na Bahia conta com cinco chefões, também chamados de ‘Torres’. São eles: ‘Jegue’, ‘Colorido’, ‘Dignow’, ‘Fofão’ e ‘Kel’. Abaixo deles, há outras ‘lideranças chaves’, algumas filiadas recentemente ao grupo, como por exemplo ‘Averaldinho do Calabar’ e ‘Mantena de Itapuã’.
O cartel PCC mantinha um ‘Pacto da Paz’ com todos os grupos criminosos que atuavam na Bahia, inclusive a facção CV. Com isso, conservava o monopólio do fornecimento de drogas e armas para todos os varejistas. Porém, parte da aliança foi rompida com a morte do traficante Jorge Rafaat, em 15 de junho de 2016. Rafaat conseguia manter os criminosos unidos. Anos depois, o CV começou a expandir a atuação na Bahia e firmou parcerias com outras organizações criminosas, a exemplo da Tropa do A (liderada por Fal e Daniel Baiano) e da Katiara (liderada por Roceirinho).
Isso aconteceu, principalmente, porque a prioridade do PCC sempre foi também o tráfico transnacional, através de submarinos ou navios, para a Europa e África. Com isso, deixou de dar assistência necessária ao BDM com fornecimento de armas para enfrentamento ao CV.
A investida do CV causou irritação no BDM, facção que ainda comanda a venda de drogas na maioria do estado. O BDM passou a pressionar o PCC para adotar medidas e a relação entre os dois grupos passou a ficar estremecida, sendo que o motivo principal da desavença envolveu Edson Silva de Santana, o ‘Jegue’ e um indivíduo conhecido como ‘Suiço’.
Fontes do IB revelaram que ‘Jegue’, que atua em vários locais da Bahia e seu ‘quartel general’ seria no Arenoso (região de Tancredo Neves, em Salvador), havia se afastado das atividades criminosas. Ele determinou que ’Suiço’ assumisse provisoriamente os negócios durante a sua ausência. Entretanto, após retornar, ‘Jegue’ se desentendeu com o seu gerente e decretou a sua morte. Desesperado, ’Suiço’ procurou o PCC e foi batizado pela facção paulista, que passou a lhe dar proteção. O BDM exigiu que o PCC entregasse ‘Suiço’, o que não aconteceu. A ousadia do BDM desagradou a cúpula do PCC, resultando em um “racha” aparentemente definitivo entre os grupos. Essa informação ainda não está totalmente clara.
No início de julho desse ano, a cúpula do PCC chegou a determinar a localização de alguns membros específicos do BDM que estavam escondidos na favela de Paraisópolis em São Paulo com a intenção de executá-los. Um dos bandidos do grupo baiano, um homem conhecido como ‘JB’, que estava fora do radar da Secretaria de Segurança Pública da Bahia, chegou a ser localizado e morto supostamente pelo PCC no estado do Rio de Janeiro, vizinho a São Paulo. Inicialmente surgiu a informação que ‘JB’ teria ficado com uma mulher de um parceiro e teria sido morto pelo CV, mas há controvérsias. O fato é que ‘JB’ caiu em uma emboscada, no dia 22 de Julho.
Diante da guerra, chefões do BDM fugiram de São Paulo e conseguiram abrigo em outros estados, a exemplo do Rio de Janeiro, onde foi fechada a parceria com o TCP. Essa facção carioca, que domina quase 10% da venda de entorpecentes no estado fluminense, costuma também recrutar policiais e ex-policiais, o que a torna ainda mais perigosa.
Com isso, o TCP já é uma realidade na Bahia para fazer ‘frente’ ao avanço do ‘Príncipe Buel’ ou ‘O Manno’, chefão do CV na Bahia e que mora no RJ.
SSP e PF contra-atacam
Diante do cenário preocupante e possibilidade de aumento da violência na Bahia, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) e pela Superintendência Regional da Polícia Federal (PF) lançaram no dia 11 de agosto a Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (FICCO). As instituições, através de um Acordo de Cooperação Técnica, ampliaram o trabalho de inteligência.
O Informe Baiano questionou o secretário de Segurança Pública (SSP), Marcelo Werner, e o superintendente Regional da Polícia Federal, Flávio Márcio Albergaria, sobre essa movimentação das organizações criminosas.
Werner, que é especialista no combate às facções criminosas e já atuou como delegado federal em setores de Inteligência, disse que “trabalha com todas as hipóteses” e “acompanha, através da Inteligência, a movimentação das facções criminosas”. “A gente já observa uma forma de agir parecida com facções de outros estados”, pontua.
O secretário reafirmou ainda que o Estado vem adotando “uma postura firme em relação a esse enfrentamento”. O chefe da SSP citou “diversas prisões que a gente realizou, algumas operações de intensificação, que é a concentração que a gente vem fazendo em algumas regiões de Salvador e no interior do Estado. A quantidade de armamento que a gente vem apreendendo, barricadas que nós derrubamos já esse ano, sistema de monitoramento para monitorar a atuação da polícia, que a gente desarticulou. E a gente vai continuar justamente com essas ações. A gente entende que o Estado tem que se fazer presente. A polícia está para servir, proteger e está a serviço do cidadão”, afirmou Werner.
Já Albergaria afirmou que “o movimento das facções está com os dias contados” e “todas as informações estão sendo trabalhadas no campo da Inteligência e serão convertidas em investigações”.
“Então, seja qual grupo for que esteja vindo ou crescendo aqui na Bahia será atacado, será reprimido, desde sua liderança no viés da descapitalização e a resposta vai ser dada, que a sociedade espera”, finaliza Albergaria.
As informações são do Informe Baiano
