Saúde, educação, segurança e moradia. Esses são alguns dos pilares que, se bem atendidos, contribuem para a qualidade de vida dos moradores de qualquer cidade. De olho nos serviços essenciais oferecidos à população, o Índice de Progresso Social (IPS) avalia os desempenhos sociais e ambientais dos municípios brasileiros. Nesta semana, foi divulgado o ranking com as melhores e piores notas.
No ranking das cidades com as melhores condições de vida do Brasil, a Bahia aparece na 22º posição. O estado obteve média de 57,67 a partir da análise de todos os municípios baianos. Distrito Federal (69), São Paulo (66) e Santa Catarina (64) lideram a lista. Entre os fatores que contribuem para o fraco desempenho da Bahia estão a insegurança e o acesso ao ensino superior.
As belezas naturais de Camamu, no litoral sul da Bahia, são atrativos para turistas de todo o Brasil, mas disfarçam a realidade enfrentada pelos moradores. De acordo com Índice de Progresso Social, a cidade tem a pior qualidade de vida da Bahia. A média foi de 46,43 do total de 100 pontos, com piores médias nas áreas de segurança pessoal, saúde e educação.
Maria Selma Pereira, 61, que vive em Camamu, afirma que os moradores sentem pela ausência de universidades próximas. A localizada mais perto é a Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), que tem campus em Itabuna – cidade que fica a 120 quilômetros da cidade. “Não temos uma faculdade aqui, e isso seria muito importante. Os alunos precisam sair da cidade para se formar, o que é um absurdo. Outro problema é que os postos de saúde têm demanda muito grande, e demora para marcar consultas”, reclama.
Outro ponto sensível para a cidade de 30 mil habitantes, segundo a pesquisa, é o assassinato de jovens. Não por acaso, Camamu é uma das 63 cidades brasileiras que integram o Programa Nacional De Segurança Pública com Cidadania, do Governo Federal. O programa acompanha os índices de mortes violentas em municípios considerados “prioritários” no tema.
Dados divulgados neste ano apontam, no entanto, para a redução do número de homicídios. Camamu registrou taxa de 151 mortes violentas a cada 100 mil habitantes, em 2021, e reduziu o índice para 75, em 2023. A reportagem buscou a prefeitura da cidade, através dos contatos de telefone e e-mail disponibilizados em canais oficiais, mas não obteve retorno sobre o desempenho do município no ranking. O espaço segue aberto.
Para o professor Horacio Nelson Hastenreiter, coordenador do mestrado em Gestão da Segurança Pública da Universidade Federal da Bahia (Ufba), o sentimento de bem-estar da população está intimamente ligado à segurança. “Em determinadas comunidades, controladas por grupos criminosos, as liberdades de ir, vir e estar, são comprometidas por circunstâncias criadas e por momentos mais agudos de conflito”, disse em entrevista anterior ao CORREIO.
O professor cita ainda a Escala de Maslow, que identifica a sensação de segurança como uma das principais necessidades básicas dos seres humanos. No ano passado, Camamu ganhou destaque no noticiários após o desaparecimento da professora Ariane Roma dos Santos, de 36 anos. A Polícia Civil, na época, chegou a divulgar que o corpo de Ariane havia sido encontrado esquartejado em uma área de mata, mas tratava-se de outra pessoa. A suspeita é que a professora, que não foi encontrada até hoje, tenha sido morta pelo ex-companheiro.
Além de Camamu, cidades próximas ao município do baixo sul também estão entre as que possuem os piores índices da Bahia. É o caso de Taperoá (48), Belmonte (47,3) e Wenceslau Guimarães (47,1/100). A coordenadora do IPS Brasil, Melissa Wilm, ressalta que o litoral do estado possui as áreas mais críticas.
“Os pontos de atenção no estado estão especialmente direcionados ao acesso à educação superior e segurança pessoal, principalmente no litoral baiano. A Bahia não é um estado homogêneo, e apresenta diferenças a depender da região”, explica. A cidade de Pilão Arcado, na região do Vale do São Francisco, completa a lista das cinco cidades com as piores qualidades de vida do esta.