Entre 2018 e 2023, o número de mortes no trânsito na Bahia aumentou 30%, passando de 2.112 para 2.747 casos. Com esse crescimento, o estado ocupa a terceira posição no ranking nacional de óbitos no trânsito, atrás apenas de São Paulo (5.022) e Minas Gerais (3.249). Os dados fazem parte do Atlas da Violência, divulgado na última segunda-feira (12), produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).
O levantamento utiliza informações do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), ligado ao Ministério da Saúde, e considera todas as ocorrências fatais que envolvem pedestres, condutores, ciclistas e motociclistas.
De acordo com a Polícia Rodoviária Federal na Bahia (PRF-BA), em 2023, 556 das mortes registradas ocorreram nas rodovias federais que cortam o estado, em um total de 3.687 acidentes. Para o policial rodoviário Fábio Rocha, integrante do núcleo de comunicação da PRF-BA, os dados refletem desafios estruturais e comportamentais.
“No contexto das rodovias federais, alguns desafios incluem o alto volume de tráfego misto – caminhões, veículos leves, motocicletas e pedestres –, trechos com infraestrutura deficitária, comportamento de risco dos condutores e limitações na cobertura de fiscalização presencial”, afirmou.
Ele defende que a superação dessas questões exige investimentos contínuos em sinalização, engenharia de tráfego, educação para o trânsito e integração entre os órgãos de segurança, saúde e infraestrutura.
Para o especialista em trânsito Luide Souza, o excesso de velocidade e as ultrapassagens em locais proibidos estão entre as principais causas das mortes. Ele ressalta que a falta de políticas públicas voltadas à educação e à fiscalização agrava o problema. “Os entraves que dificultam a mudança desse cenário são a falta de políticas públicas que priorizem a educação para o trânsito e o fortalecimento da fiscalização”, avaliou.
Queda nos investimentos
Apesar da gravidade do cenário, o Atlas da Violência destaca que os recursos públicos destinados à segurança no trânsito sofreram cortes significativos nos últimos anos. Segundo o painel Siga Brasil, do Senado Federal, o Fundo Nacional de Segurança e Educação de Trânsito (Funset) teve redução no volume de recursos aplicados diretamente em ações de trânsito, mesmo sendo alimentado pela arrecadação de multas.
Outro fator citado foi a interrupção da cobrança do seguro DPVAT em 2019. Além de indenizar vítimas de acidentes, o seguro também contribuía com recursos para o Sistema Único de Saúde (SUS), que cobre os atendimentos emergenciais. A extinção do DPVAT impactou tanto o atendimento público quanto a assistência direta às vítimas. “Além disso, as vítimas de sinistros de trânsito perderam o direito a essa indenização”, destaca o estudo.
Medidas de prevenção
Para tentar conter o avanço da violência no trânsito, a PRF-BA informou que vem intensificando fiscalizações focadas em condutas de alto risco, como excesso de velocidade, ultrapassagens indevidas, embriaguez ao volante e falta do uso de capacete.
A instituição também promove ações educativas, como o projeto Cinema Rodoviário, palestras em escolas e campanhas de conscientização, a exemplo do Maio Amarelo. “Utilizamos tecnologias e análise de dados para direcionar o policiamento ostensivo de forma mais estratégica, priorizando os trechos com maior índice de sinistros”, concluiu Fábio Rocha.