Uma reportagem do Jornal Correio revelou que a facção Comando Vermelho (CV) começou a cobrar valores de ‘pedágio’ a algumas distribuidoras de internet em bairros de Salvador. O chamado “CV Net” é uma prática de extorsão que obriga os provedores a pagar taxas mensais para operar em áreas sob influência do grupo. Em Salvador, os casos foram registrados em bairros como Cosme de Farias, Nordeste de Amaralina, Engenho Velho da Federação, Tancredo Neves e Cabula.
Sem opções, quem se recusa a pagar pode sofrer represálias violentas. No bairro Engenho Velho da Federação, um comerciante contou sobre um caso ocorrido em 2023. “Invadiram a sede do rapaz e deram um tiro no pé dele. Ele não quis pagar e mesmo assim continuou operando. No dia seguinte, teve que sair da comunidade”.
Segundo relatos de moradores e empresários, os valores cobrados variam conforme o número de clientes atendidos, podendo chegar a 30% do valor das mensalidades. “Quem não pagava era pressionado. Primeiro cortavam os cabos, depois partiam para ameaças mais sérias. Eu tive que repassar minha clientela e mudar de área. Fali”, contou um ex-provedor que hoje trabalha no interior do estado.
No Engenho Velho da Federação, a cobrança começa por mensagens de WhatsApp em visualização única. Os áudios são enviados por perfis com imagens religiosas, e impõem o pagamento através de ameaças. Segundo os relatos, a prática também é comum em localidades como Baixa da Égua e Forno.
Em março deste ano, moradores de Tancredo Neves denunciaram que apenas um provedor autorizado pela facção pode operar na região. Equipamentos de empresas concorrentes foram incendiados por criminosos, forçando a interrupção do serviço.
Esse tipo de ação já havia sido registrada em 2023, quando moradores ficaram sem internet após integrantes da facção arrancarem cabos de rede. A represália foi motivada pela negativa dos provedores em pagar o “pedágio” imposto por um líder conhecido como “Galo”.
O mesmo caso aconteceu no bairro do Cabula, quando em 2024, a 23ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM) desarticulou uma atuação do CV na Estrada das Barreiras. A facção cobrava taxas não só de provedores, mas também de comerciantes.
Desde 2020, a Anatel recebeu 220 denúncias de prestação clandestina de internet na Bahia, sendo 30 apenas em Salvador. Em nota, a agência afirmou que a dispensa de autorização vale apenas para redes que usam equipamentos de radiação restrita e sem uso de numeração.
O Ministério Público da Bahia (MP-BA) confirmou por meio que acompanha os casos relacionados à atuação de facções no fornecimento de internet. Por se tratar de investigação criminal, os detalhes correm sob sigilo.