O mês de maio de 2025 foi o mais letal para adolescentes vítimas da violência armada na Bahia desde o início da série histórica do Instituto Fogo Cruzado. Ao todo, dez adolescentes foram baleados em Salvador e na Região Metropolitana (RMS) — três morreram e sete ficaram feridos. O número representa um recorde mensal e evidencia a crescente vulnerabilidade de jovens frente à escalada da violência.
Entre os casos mais graves, está o assassinato de Ryan Gabriel Ferreira Santos, de 17 anos, morto na noite de 18 de maio durante um confronto entre grupos armados na Rua João Paulo II, na localidade de Alagados, bairro do Uruguai, em Salvador. Outros três jovens também foram atingidos nesse mesmo ataque, incluindo dois adolescentes de 15 e 17 anos.
Sete dos adolescentes baleados foram atingidos em Salvador, dois em Lauro de Freitas e um, morto, em Camaçari. Para Tailane Muniz, coordenadora regional do Instituto Fogo Cruzado, os dados expõem uma realidade preocupante: “É sintomático que nossas vítimas sejam cada vez mais jovens. Se não há política de proteção da população, os mais vulneráveis estarão nessa estatística, inevitavelmente. O que é preocupante, sobretudo porque este mesmo grupo etário deveria ser prioridade no quesito garantia de direitos”.
Tiroteios e letalidade em alta
O relatório mensal do Instituto Fogo Cruzado contabilizou 137 tiroteios na capital e RMS em maio, resultando em 122 mortos e 28 feridos. Embora o número de confrontos tenha caído 13% em comparação com o mesmo mês de 2024 (157 tiroteios), a letalidade aumentou: houve 12 mortes a mais do que no ano anterior.
A maioria dos confrontos (59) ocorreu durante ações ou operações policiais, número 16% superior ao registrado em maio de 2024. Também chama atenção a quantidade de chacinas: foram cinco, com 15 vítimas no total.
Perfil das vítimas
Dos 150 baleados em maio, 117 homens e cinco mulheres morreram. Entre os 28 feridos, estavam 26 homens, uma mulher e uma pessoa de gênero não identificado. No recorte etário, foram registradas as mortes de uma criança, dois idosos e quatro adolescentes. Outros seis adolescentes ficaram feridos. A maior parte das vítimas (137) eram adultos.
O levantamento também revela desigualdade racial: 65 pessoas negras foram mortas, enquanto apenas uma pessoa branca aparece entre as vítimas fatais. Em 80 casos, não foi possível identificar a raça das vítimas.
Entre os atingidos por armas de fogo, 11 estavam dentro de suas residências, sendo que dez morreram. Oito foram baleados em bares e dois durante eventos. Também houve registros de tiroteios em postos de gasolina, transportes públicos e automóveis.
Mapa da violência armada
Salvador concentrou a maior parte dos episódios de violência armada no mês, com 96 tiroteios, 78 mortos e 21 feridos. Camaçari (13 tiroteios, 15 mortos) e Lauro de Freitas (10 tiroteios, 12 mortos) aparecem em seguida. Também foram registradas ocorrências em Dias D’Ávila, Simões Filho, Vera Cruz, Candeias, Itaparica, Mata de São João, São Francisco do Conde e São Sebastião do Passé.
Entre os bairros mais afetados na capital estão Rio Sena, Brotas, Águas Claras, Beiru/Tancredo Neves, Nordeste de Amaralina e Vera Cruz.