A Independência da Bahia, consolidada em 2 de julho de 1823, foi marcada por uma intensa mobilização popular e por combates decisivos em diversos pontos do estado, especialmente no Recôncavo e na capital, Salvador. Diferente do 7 de Setembro, um processo mais simbólico que ocorreu no Rio de Janeiro em 1822, a independência baiana se deu por meio da luta armada, envolvendo soldados, milicianos, mulheres, negros, indígenas e camponeses.
Cada local teve um papel específico, seja como palco de batalhas, centro de articulação política, ponto estratégico de defesa ou espaço simbólico de celebração. O jornal Candeias separou alguns dos principais lugares que marcaram essa trajetória de resistência e vitória do povo baiano contra o domínio colonial português.
Cachoeira, início do fogo
Foi nela onde começaram os primeiros combates e lá de onde parte hoje o Fogo Simbólico do 2 de Julho rumo ao bairro de Pirajá em Salvador. Entre os dias 25 e 28 de junho de 1822, a população de Cachoeira, formada por civis armados, milicianos, mulheres e libertos, resistiu bravamente a uma tentativa de invasão das tropas portuguesas enviadas de Salvador. A chamada Batalha de Cachoeira foi desencadeada após a cidade declarar oficialmente sua adesão à causa de Dom Pedro I e da independência, se colocando contra Portugal. Uma embarcação foi enviada pelo Rio Paraguaçu para atacar a cidade, mas a população conseguiu conter e garantir a posse da cidade, que logo se tornou a sede provisória do governo baiano leal ao Brasil. A vitória marcou o início da organização efetiva da resistência armada no interior da província. É por isso que todo ano, no dia 25 de julho, a cidade se torna a sede provisória do governo da Bahia.
Santo Amaro, cidade estratégica
De Cachoeira, o Fogo Simbólico segue por algumas cidades do Recôncavo e da Região Metropolitana de Salvador. Santo Amaro é um desses municípios. Assim como Cachoeira, a cidade vizinha também declarou apoio a Dom Pedro I em 1822. Rapidamente engajada na causa da independência, a cidade contribuiu com combatentes, recursos e apoio logístico às tropas brasileiras. Sua localização estratégica permitiu a ligação entre outras cidades rebeldes, como Cachoeira e Maragogipe, fortalecendo a rede de resistência contra os portugueses. A população de Santo Amaro, composta por trabalhadores rurais, comerciantes, escravizados e libertos, participou ativamente do movimento. Até hoje, o município preserva sua memória histórica como um dos bastiões da liberdade na Bahia.
Itaparica, a ilha de resistência
A Ilha de Itaparica também foi palco de uma das mais simbólicas e heroicas batalhas da Independência da Bahia. Já no ano seguinte, em 7 de janeiro de 1823, tropas portuguesas tentaram invadir a ilha, que era estratégica por controlar o acesso marítimo a Salvador. A população local, no entanto, organizou uma forte resistência contra o desembarque inimigo. Um dos grandes destaques foi a participação de Maria Felipa de Oliveira, mulher negra que, conta a história, liderou um grupo de combatentes e se tornou símbolo da luta popular.
Forte de São Pedro, fortaleza conquistada
Ponto estratégico durante a luta pela Independência da Bahia, o Forte de São Pedro, no bairro Dois de Julho, em Salvador, era controlado pelas forças portuguesas, e uma das principais defesas da cidade contra os ataques das tropas brasileiras. Em fevereiro de 1822, as milícias baianas conseguiram tomar o forte, marcando uma das primeiras grandes vitórias da resistência local. A conquista foi fundamental para enfraquecer o domínio português sobre Salvador, permitindo que os brasileiros organizassem melhor suas forças e avançassem na campanha pela libertação da capital baiana.
Pirajá, combate decisivo
A 16 km dali, o bairro de Pirajá também foi palco de uma das batalhas mais conhecidas do processo de independência do Brasil na Bahia. A tão conhecida Batalha de Pirajá aconteceu em 8 de novembro de 1822, quando as forças brasileiras enfrentaram as tropas portuguesas que tentavam retomar o controle de Salvador. Apesar de estarem em menor número e com menos armamento, os combatentes brasileiros, compostos por milícias populares, escravizados, indígenas e soldados regulares, resistiram durante cerca de oito horas de intenso combate no bairro, então uma área estratégica na entrada da cidade. A vitória brasileira foi fundamental para o avanço das tropas libertadoras que culminaram na expulsão definitiva dos portugueses em 1823.
Lapinha, concentração para a reconquista
A Lapinha tem um papel central nas celebrações do 2 de Julho por ser o ponto de partida do cortejo cívico que relembra a vitória das forças brasileiras na luta pela independência da Bahia em 1823. Foi na região da Lapinha que as tropas libertadoras se concentraram antes de entrar triunfantes em Salvador, após a retirada dos portugueses. O local simboliza o início da reconquista da cidade e, por isso, tornou-se marco inicial das comemorações. É lá que estão guardadas as imagens do Caboclo e da Cabocla, símbolos do povo brasileiro na luta contra a opressão colonial.
Campo Grande, o final do caminho da libertação
Da Lapinha, as imagens do Caboclo e da Cabocla seguem até o Campo Grande. É o ponto final do cortejo cívico que refaz simbolicamente o caminho da libertação. No local está erguido o Monumento ao Dois de Julho, que homenageia os heróis da independência baiana, como Maria Quitéria e o general Labatut, além das figuras do Caboclo e da Cabocla, representações do povo que participou ativamente da luta.