O plano do prefeito Antônio Calmon de reduzir o valor e o número de beneficiários do programa “Pão na Mesa” foi enterrado ao menos momentaneamente pela pressão popular sobre os vereadores.
Após uma sequência de manobras, promessas e tentativas de controle político, a Câmara de Vereadores de São Francisco do Conde recuou e não colocou o projeto em votação na sessão desta terça-feira (21).
O resultado representa uma derrota direta para Calmon e um abalo inédito na relação do prefeito com sua base aliada.
O Jornal Candeias já havia mostrado, pela manhã, que a votação do projeto poderia ser considerada obstrução de justiça (Veja aqui)
Derrota e isolamento político
Calmon acreditava que sua antiga influência política ainda seria suficiente para dobrar os vereadores.
Depois de passar o fim de semana batendo de porta em porta, tentando convencer individualmente cada parlamentar, o prefeito chegou a garantir ao presidente da Câmara, Nem do Caípe, que já tinha os votos necessários para aprovar o projeto que reduzia o valor do benefício para R$ 150 e cortava mais de 90% das famílias atendidas.
Mas o tiro saiu pela culatra.
Calmon viu os vereadores recuarem ao vivo, durante a transmissão pelo YouTube, e se deu conta do próprio isolamento político.
Nem as promessas de 20 novos cargos comissionados e nomeações imediatas foram suficientes para garantir apoio.
Na prática, ninguém quis assumir o desgaste de votar contra um programa social que beneficia milhares de famílias carentes e muitos já duvidavam que as promessas de cargos seriam cumpridas.
Como o Jornal Candeias havia antecipado, a estratégia foi montada com orientação da secretária de Saúde e vereadora licenciada Greice Tanferi, que mandou o prefeito negociar individualmente com os vereadores após o vazamento da primeira reunião coletiva (Veja aqui )
A tática, porém, saiu pela culatra, pois deixou claro aos vereadores que o prefeito não confia mais em sua base.
Bastidores: “Dia de fúria” e cobranças
Com a repercussão das denúncias nas redes sociais e a pressão da opinião pública, os vereadores decidiram não votar o projeto e afirmaram que só o farão após uma audiência pública.
Segundo fontes da própria gestão, Greice Tanferi teve um “dia de fúria” nos bastidores, reclamando do recuo da base e acusando aliados de “falta de lealdade”.
Ela teria dito que “isso não aconteceria se ainda estivesse no mandato”, conforme relato de um vereador da base sob reserva:
“Ela achou que ainda controlava o tabuleiro, mas o jogo virou”, afirmou.
Ainda segundo informações de bastidores, Greice teria pressionado Calmon a exigir de Nem do Caípe a convocação de sessões extraordinárias para tentar retomar a votação.
A mentira orçamentária desmascarada
Durante a sessão, o principal argumento do governo de que a redução do benefício permitiria ampliar o número de famílias atendidas caiu por terra.
A própria Lei Orçamentária Anual (LOAS), enviada junto ao projeto, prevê apenas R$ 4 milhões para todo o ano de 2026.
Na prática, isso representa menos de R$ 400 mil por mês para custear um programa que atualmente movimenta cerca de R$ 3 milhões mensais.
A LOAS define quanto a Prefeitura vai gastar em cada programa no ano seguinte e, nesse caso, a previsão confirma o corte, não a ampliação.
O discurso do secretário de Administração, Aloísio de Oliveira, de que o novo modelo atenderia “6.450 famílias”, foi desmentido durante a própria sessão, marcando o fim da credibilidade do governo dentro do plenário.
Pressão popular foi decisiva
O recuo dos vereadores foi resultado direto da mobilização popular e da pressão nas redes sociais, que se intensificou após o Jornal Candeias revelar que votar o projeto poderia configurar burla à decisão judicial que obriga o pagamento integral do programa “Pão na Mesa”.
Famílias beneficiárias, líderes comunitários e movimentos sociais lotaram as redes cobrando dos vereadores uma posição firme contra a redução do benefício.
Diante da repercussão, Nem do Caípe encerrou a sessão sem votação, para evitar um confronto maior e o desgaste definitivo da Câmara.
A próxima sessão ordinária foi marcada para 4 de outubro, já que a próxima semana será feriado do servidor público.
Nos bastidores, há informações de que Calmon já teria ligado ao presidente para tentar convocar duas sessões extraordinárias e retomar a discussão.