Enquanto o governo de São Francisco do Conde tenta conter as críticas e os protestos, a voz que mais precisa ser ouvida começa a ecoar: a voz dos alunos. Entre lágrimas e indignação, uma adolescente de 14 anos, moradora do bairro do Socorro e estudante do CEAS no Caipe (Centro de Estudos e Aperfeiçoamento do Saber), escreveu um desabafo para o Jornal Candeias que resume o sentimento de toda uma geração esquecida, pelo prefeito Antônio Calmon e a secretaria de Educação, Vanessa Dantas.
“Tem justiça para todos os lugares, menos para São Francisco do Conde.” Com essas palavras, ela inicia o relato que escancara o abandono da educação pública no município. “A educação que deveria ser um direito virou quase um privilégio”. Ela continua afirmando que “todos os dias enfrento uma realidade que parece um castigo para quem só quer estudar e construir um futuro digno. Antes, as aulas já eram difíceis de acontecer, agora, então, piorou.”
A jovem conta que precisa acordar às cinco da manhã para conseguir chegar ao ponto de ônibus às 7h30 — um horário que, segundo ela, foi alterado pela Prefeitura e tornou ainda mais penosa a rotina dos alunos. “Saímos de casa no frio da manhã, debaixo da neblina e do medo, carregando cadernos e sonhos, acreditando que através do estudo poderíamos mudar a nossa realidade. Mas quando chegamos na escola, o que encontramos é um cenário assustador: um lugar isolado, sem segurança, sem estrutura e sem esperança.”
Abandono, falta de professores e desespero
A estudante relata que os alunos ficam do lado de fora da escola por quase uma hora, aguardando a entrada. “Ficamos do lado de fora do portão de 7h40 até quase 8h40, esperando a boa vontade da direção para liberar a entrada. Isso quando alguém da direção aparece, porque muitas vezes ficamos literalmente ‘a Deus dará’, sem professores, sem gestores e sem explicação.”
Ela reconhece a razão da greve dos professores, que estão sem receber salários, mas questiona. “Os professores têm razão de não ir afinal, estão sem receber. Mas e nós, os alunos? Onde fica o nosso direito à educação? Onde está o compromisso da atual gestão com a juventude?”
Em um dos trechos mais duros do desabafo, a aluna denuncia a desigualdade entre os filhos dos governantes e os jovens da rede pública. “Os filhos dos gestores e dos políticos estudam em escolas particulares, têm conforto, segurança e ensino de qualidade. Enquanto isso, nós, alunos da rede pública, enfrentamos o abandono, o descaso e o desprezo.”
A adolescente propõe, inclusive, que a Prefeitura reative o antigo CEAS, uma escola mais estruturada, e encerre o funcionamento da unidade atual, que segundo ela “mais parece um depósito de alunos do que um espaço de aprendizado”. “Mas, claro, isso exigiria vontade política e empatia — duas coisas que parecem ter desaparecido de São Francisco do Conde.” afirmou.
“Sem educação, não há futuro”
O desabafo termina com um apelo emocionante. “Sem educação, não há futuro. Sem investimento nos jovens, não há progresso. E sem justiça, não há cidade que resista. Hoje, muitos de nós ainda tentam aprender sozinhos, em casa, se virando com o que têm, porque não podemos deixar nossos sonhos morrerem. Mas não deveria ser assim. Queremos apenas o básico: uma escola funcionando, professores valorizados e um ambiente digno.”













