A revelação sobre a existência de uma fazenda milionária e de alto padrão, atribuída aos filhos do prefeito Antônio Calmon, caiu como uma bomba em São Francisco do Conde e gerou uma onda de indignação nas ruas, nas redes sociais e nos bastidores políticos. A comparação feita pela própria população resume o sentimento coletivo: “Enquanto a gente passa fome sem o Pão na Mesa, sem transporte universitário, com salário atrasado, os cavalos dos filhos de Calmon comem maçã e pera em baias com ar-condicionado.”
Para muitos moradores, o episódio representa uma das maiores afrontas já vivenciadas pela cidade — um retrato cruel da desigualdade entre o sofrimento da população e o luxo associado à família que administra o município.
A indignação cresceu ainda mais após vereadores relatarem, de forma reservada, que ficaram atônitos ao tomarem conhecimento de mais um patrimônio de grande porte ligado à família. Segundo parlamentares, o caso evidencia uma contradição insustentável: enquanto São Francisco do Conde enfrenta pobreza crescente, serviços públicos em colapso e falta de políticas sociais básicas, a família do prefeito aparece entre as mais fortalecidas economicamente no estado, com negócios em expansão. “Cada nova revelação torna impossível defender o indefensável”, confidenciou um vereador.
Nos bastidores do governo, a reação do prefeito teria sido marcada por tensão e suspeitas internas. Fontes apontam que Calmon passou a desconfiar de aliados próximos diante da série de informações sensíveis sobre o patrimônio familiar que vem sendo divulgada. Auxiliares relatam um clima de isolamento, desconfiança e pressão no núcleo do poder.
A partir da próxima semana, a investigação deve avançar de forma decisiva. A empresa Patrimonial Maria de Magdala entrará no foco central das apurações, com expectativa de cruzamento de todos os bens declarados da família Calmon, suas sociedades empresariais e possíveis imóveis registrados em nome de terceiros — os chamados “laranjas”. Segundo apuração, esse mapeamento será decisivo para a conclusão do inquérito e pode revelar uma estrutura patrimonial muito maior que a oficialmente informada. A redação teve acesso a uma relação que inclui mais de 40 imóveis de alto valor vinculados à Patrimonial Maria de Magdala.
O clima de mistério aumentou após uma operação do Ministério Público realizada nesta semana em Madre de Deus, que alcançou uma empresa de eventos e locações pertencente a um empresário conhecido como “Ueldo”. Informações preliminares indicam que o mesmo empresário aparece como operador financeiro em pagamentos feitos em dinheiro vivo para aquisição de cavalos e bois em leilões destinados à Fazenda Santo André, localizada em Minas Gerais. A coincidência levantou alertas entre investigadores, que passaram a cruzar dados financeiros, logísticos e patrimoniais — incluindo viagens ao estado mineiro realizadas logo após grandes saques em espécie.
Com a repercussão da denúncia, Carlos André bloqueou o acesso ao Instagram da Fazenda Santo André, em uma ação considerada tardia. A força-tarefa já havia registrado todo o conteúdo, que foi preservado por meio de ata notarial como prova documental. Fontes afirmam ainda que Carlos André pode estar sendo monitorado há meses, incluindo suas idas frequentes a um galpão em Abrantes — imóvel que pertence justamente ao empresário “Ueldo”, agora no centro das atenções.
Documentos que seguem sob análise devem indicar, a partir de segunda-feira, que a evolução patrimonial dos filhos do prefeito não encontra respaldo em rendas oficialmente conhecidas, ampliando o clima de apreensão.
Enquanto isso, São Francisco do Conde vive dias de revolta silenciosa e sensação de traição coletiva. Para muitos moradores, a cidade não foi apenas abandonada, mas humilhada ao ver o luxo crescer à distância enquanto o básico desaparecia da mesa do povo — um cenário que, segundo críticos, teve início ainda na gestão marcada pelo apelido de “Rei do Lixo”.












