São Francisco do Conde encerra este mês, e caminha para o Natal, sob um cenário que mistura sofrimento social, colapso institucional e um projeto de poder conduzido sem qualquer preocupação com as consequências humanas. A semana e o mês que se encerram escancararam um contraste cruel: enquanto a cidade foi exibida ao Brasil como uma das mais ricas do país, o povo enfrentou fome, salários atrasados, transporte público parado, serviços públicos em colapso e um Natal sem cestas, sem luzes, sem brilho. Uma cidade oca, por fora e por dentro.
No centro desse cenário está a postura do prefeito Antônio Calmon, que já não age como quem busca aprovação popular ou futuro eleitoral próprio. Calmon não é mais candidato a nada e age com a tranquilidade de quem acredita que a impunidade está garantida. A popularidade deixou de ser uma variável. O sofrimento do povo, um efeito colateral. O que importa, hoje, é permanecer no controle do poder até 2028 e garantir a sucessão.
Nesse cálculo frio, entram também os vereadores. A maioria da Câmara optou pela omissão, acreditando que o desgaste ficaria restrito ao prefeito. Não ficou. Ao se calarem diante das denúncias, da paralisia da cidade e da dor social, os vereadores estão afundando junto com Calmon. O prefeito já demonstrou, nos bastidores, que não pretende preservar ninguém. Pelo contrário: sua intenção declarada é trocar o maior número possível de vereadores na próxima eleição, eliminando o que chama de parlamentares “viciados”, para formar uma nova Câmara submissa, sem questionamentos e sem fiscalização.
O plano é claro: eleger Graice Tanferi prefeita e, com uma Câmara renovada e alinhada, governar “em paz”, longe do que Calmon chama, com desprezo, de “sanguessugas”. Graice é vista por ele como a única aliada que compra suas brigas até o fim, que o defende publicamente e que sustentaria o projeto de continuidade sem fissuras. Enquanto isso, os atuais vereadores candidatos à reeleição absorvem o desgaste de uma gestão que já não se preocupa em preservar ninguém.
Nesse jogo, Calmon demonstra absoluta indiferença ao impacto social. Seus filhos, segundo relatos recorrentes, estariam com a vida garantida, protegidos por um patrimônio robusto acumulado ao longo dos anos, fazendas, empresas, bens e negócios que assegurariam conforto por diversas gerações. O povo, por outro lado, encara um Natal de escassez. A cidade, rica no papel, vive como pobre na prática.
Os maiores prejudicados, além da população, são justamente os vereadores que ainda acreditam que o silêncio os salvará. Não salvará. O desgaste é coletivo. A omissão cobra preço. E a cada denúncia revelada, a cada contrato questionado, a cada serviço interrompido, a Câmara se aproxima mais da lama que tentou ignorar.
Este editorial não fala apenas de política. Fala de responsabilidade histórica. Quando uma cidade rica permite que seu povo passe fome; quando representantes eleitos se calam; quando um prefeito governa apenas para garantirá sua sucessão e proteção de patrimônio; quando a justiça demora, o sofrimento se prolonga.
O Natal que se aproxima em São Francisco do Conde não é de celebração. É de reflexão amarga, de ruas apagadas e consciências inquietas. E a pergunta que ecoa, mais alta a cada dia, não pode mais ser ignorada: Até quando a Justiça vai permitir o sofrimento do povo de São Francisco do Conde?











