A Basílica de Nossa Senhora da Conceição da Praia é a terceira construção erguida ao pé da encosta que liga a Cidade Alta à Cidade Baixa, em Salvador. Todos os anos, em 8 de dezembro, a capital baiana celebra a padroeira do estado com aquele que é considerado o mais antigo festejo religioso do Brasil. Nesse dia, padres, seminaristas, fiéis e moradores percorrem as ruas do Comércio acompanhando o andor da santa, embalados pelo coral da igreja e, em muitos momentos, até por trio elétrico — um retrato fiel da identidade baiana.
A devoção à Conceição é um dos pilares espirituais da Bahia. Sua simbologia atravessa gerações e dialoga com diferentes tradições, sendo venerada no catolicismo e, de forma sincrética, associada a Oxum, orixá das águas doces. Essa fusão entre fé, ancestralidade e história molda profundamente a cultura do estado.
A presença da imagem em Salvador remonta a 1549, quando Tomé de Souza, primeiro governador-geral do Brasil, desembarcou trazendo nos navios portugueses a representação de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, então padroeira de Portugal. A escultura foi instalada em uma pequena capela improvisada à beira-mar, entre a praia e o antigo porto — origem do nome “Conceição da Praia”.
Aquele singelo oratório evoluiu para uma paróquia oficial em 1623, uma das mais antigas da Arquidiocese de Salvador. Já em 1739 teve início a construção da igreja atual, inteiramente formada por pedras de lioz trazidas de Portugal e assentadas com óleo de baleia. O processo, que atravessou três gerações de artesãos, se estendeu por quase três séculos e foi concluído apenas em 1840, incluindo o célebre teto da nave pintado por José Joaquim da Rocha, referência da arte sacra baiana.
Tombada como patrimônio histórico em 1938, a igreja recebeu o título de basílica em 1946. Em 1971, Nossa Senhora da Conceição foi proclamada padroeira única da Bahia, consolidando seu papel central na formação religiosa e cultural do estado.
As homenagens começam ainda no fim de novembro, com novenário e celebrações diárias. No dia 8, diversas missas são realizadas — a principal logo nas primeiras horas da manhã — seguidas da procissão que percorre o Comércio. A festa reúne música, tradição e espiritualidade, refletindo a pluralidade baiana, onde a devoção católica convive e se entrelaça à herança africana.
Hoje, a Basílica Santuário não se destaca apenas pela religiosidade, mas também como um importante monumento arquitetônico e histórico. Suas pedras de lioz, altares em mármore e obras barrocas atraem visitantes e devotos de todo o país, preservando uma narrativa que atravessa séculos e conecta passado e presente, cidade e mar, fé e cultura.












