A manhã desta terça -feira em São Francisco do Conde foi marcada por tensão, cobrança popular e um recado que ecoou pelas galerias da Câmara: a cidade não suporta mais os desmandos da gestão Antônio Calmon. A sessão, que deveria deliberar sobre temas fundamentais (impeachment e Loas), acabou nem acontecendo após a população ocupar o plenário e denunciar a ausência de vereadores que deveriam estar presentes para conduzir os trabalhos. Calmon colocou os vereadores para dividir o desgate de seu governo e levou a crise pra a Câmara.
Indignados, os moradores passaram a fazer a chamada pública dos vereadores ausentes, expondo quem estava fugindo da responsabilidade enquanto o município enfrenta o maior colapso administrativo da sua história recente. A falta de quórum evidenciou o caos político e o afastamento crescente entre população e Legislativo.
A votação da LOA — Lei Orçamentária Anual deveria avançar nesta semana, mas o governo já admite que não tem votos para aprová-la. Diante da iminente derrota, Calmon teria oferecido, desde segunda-feira, cerca de 15 cargos para cada vereador para tentar recompor sua base e assegurar apoio mínimo. A tentativa pelo visto, fracassou. Segundo vereadores, ninguém mais confia nas promessas do prefeito, que deixou de cumprir acordos, inclusive relativos à votação da retirada do Pão na Mesa.
“Depois daquela promessa não cumprida, acabou-se qualquer confiança. Inclusive só converso com ele gravando”, afirmou um parlamentar em off e foi mais direto: “Calmon tenta recompor base sem pagar salário, sem pagar fornecedores, só prometendo cargos que nunca chegam.”
Além do desgaste do prefeito, cresce um novo temor dentro da Câmara: o desgaste está atingindo também o Legislativo, arrastado pela crise criada exclusivamente pela gestão Calmon. O prefeito, cada vez mais isolado, puxa a Casa inteira para dentro da lama, sobretudo porque a Câmara terá de analisar o processo de impeachment já protocolado.
Nos bastidores, cresce a suspeita de que a estratégia de esvaziar sessões pode ter outro objetivo: impedir que o impeachment avance e evitar que a LOA seja votada em sessão ordinária. Caso o governo não consiga a LOA agora, existe a possibilidade de que Calmon tente impor o orçamento durante o recesso, convocando uma sessão extraordinária sob pressão, longe do olhar da população.
Com a suspensão da sessão, a ausência de quórum e a explosão de protestos, fica evidente que São Francisco do Conde atravessa o seu momento mais grave. A Câmara, que deveria ser o contraponto ao Executivo, começa a ser engolida pelo desgaste que pertence exclusivamente a Calmon, e corre o risco de perder sua credibilidade ao tentar blindar um prefeito que já perdeu o comando da própria gestão.
A população, por sua vez, deixou claro que não aceitará manobras, nem silêncio, nem omissão. Hoje, o plenário mostrou que, se os políticos insistirem em se esconder, o povo ocupará o lugar deles.












