Quando a equipe que investiga a rede de corrupção que tomou conta de São Francisco do Conde achou que todos os absurdos já teriam sido descobertos, eis que Calmon surpreende de novo: e negativamente. Mesmo com uma paralisia institucional sem precedentes, com a retirada total da frota de ônibus, vans e veículos leves, serviços públicos interrompidos, universitários perdendo aulas e famílias empobrecendo, novos dados financeiros escancaram prioridades de Calmon: pagar aliados próximos e que não tenham medo da justiça, ou que ainda não saibam que estão na mira da investigação. A prefeitura de SFC só este ano já pagou R$ 5.062.979,20 em combustíveis à empresa 2B Economize Combustível Ltda, empresa que gere os cartões de abastecimento.
O nome da empresa, inclusive, passou a ser alvo de deboche. “Se o nome da empresa é economize e levou tanto dinheiro de nosso povo, imagine se fosse gaste?”, questionou a moradora Lurdes. Para dimensionar o tamanho do gasto, os números falam por si. Considerando o preço médio do litro da gasolina a R$ 5,98, o valor pago corresponde a aproximadamente 846 mil litros de combustível. Aplicando uma média de consumo de 10 quilômetros por litro, seria possível rodar cerca de 8,46 milhões de quilômetros. Usando como referência a circunferência da Terra, estimada em 40 mil quilômetros, esse volume de combustível permitiria dar mais de 210 voltas completas ao redor do planeta, número que, por arredondamento, se aproxima de 240 voltas na Terra, tudo isso em uma cidade onde não há nada funcionando, nem mesmo sua frota.
Os pagamentos se concentraram ao longo de vários meses, com picos superiores a R$ 800 mil em um único mês, justamente no período em que servidores enfrentaram salários atrasados e a maldade de Calmon cortou os programas sociais como o Pão na Mesa. O contraste entre os números e a realidade das ruas levantou questionamentos imediatos entre os investigadores. Quem está consumindo tanto combustível, se São Francisco do Conde praticamente parou? Quais carros estão sendo abastecidos? Segundo uma fonte da Secretaria de Serviços Públicos, até placa de carros já sucateados estão sendo usadas para “justificar” esses pagamentos. Alguns desses carros, não existem nem mais no patrimônio da prefeitura.
O Jornal Candeias, solicitou ao Tribunal de Contas dos Municípios que apure com urgência a transparência desses gastos, se é que realmente existem. Apesar de ser um cartão de abastecimento, o depoimento de um motorista da prefeitura já colhido pelos investigadores e as apurações em curso, de que o abastecimento está limitado a ser usado em apenas três postos credenciados, pertencentes, de acordo com informações levantadas, a dois primos de um dos secretários da administração municipal, que já é investigado em outra apuração criminal.
O mesmo secretário já foi citado em reportagens e investigações anteriores como operador e “ajudante de ordens” de um empresário que está na mira da PF. Diante disso, investigadores passaram a cruzar pagamentos, saques em dinheiro e transferências financeiras envolvendo a empresa 2B Economize Combustível Ltda e os postos credenciados, para entender o fluxo dos recursos e identificar possíveis irregularidades ou direcionamento pra a rede de posto, carinhosamente apelidada de Vovó. Para muitos moradores, a equação é simples e revoltante: faltou ônibus, faltou comida, faltou salário, mas nunca faltou gasolina para contratos que ninguém consegue explicar.












