A que ponto chegou uma das cidades mais ricas da Bahia. Moradores do Coroado, cansados de esperar por ações da prefeitura, iniciaram uma vaquinha para custear a reforma da quadra local, abandonada há anos e sem condições mínimas de uso. A iniciativa popular, que deveria ser desnecessária em um município com orçamento bilionário, escancara o caos administrativo instaurado na gestão Calmon e a completa ausência do poder público em áreas essenciais.
A cena de jovens e ex-moradores mobilizando doações para recuperar um espaço de convivência e esporte revela a falência de um governo que virou as costas para sua própria população. Um dos organizadores da campanha resumiu o sentimento coletivo ao afirmar que “tentar ajudar a comunidade onde fui criado é o mínimo que posso fazer. Sem apoio político, vamos fazer acontecer”. A fala, ao mesmo tempo esperançosa e dolorosa, evidencia o nível de abandono que tomou conta de São Francisco do Conde.
A vaquinha do Coroado se soma a uma sequência de crises que se agravam diariamente: comunidades inteiras sem atendimento médico e odontológico por meses; escolas sem limpeza, com empresas terceirizadas há mais de seis meses sem salário; transporte público em colapso, forçando estudantes a caminhar quilômetros; desabastecimento de medicamentos; servidores efetivos, REDA e cargos comissionados sem receber; o descumprimento da decisão judicial do programa Pão na Mesa, deixando famílias vulneráveis sem alimentação; escândalos envolvendo o genro do prefeito e operadores financeiros; protestos quase diários, enfrentamento com a polícia e revolta crescente em todas as regiões da cidade. Enquanto isso, quadras, praças, unidades de saúde e equipamentos públicos se deterioram diante de um governo que não age, não responde e não oferece qualquer perspectiva de solução.
Quando uma comunidade precisa recorrer a vaquinhas para recuperar seu próprio espaço esportivo, é porque o Estado implodiu. Em São Francisco do Conde, o que se vê é um desgoverno marcado por improviso, abandono e um silêncio institucional que deixa claro que a administração perdeu completamente o controle da cidade. A vaquinha da povo do Coroado não é apenas um gesto de solidariedade: é um grito de socorro. Um símbolo de resistência diante da ausência total do poder público. A população tenta fazer sua parte enquanto o governo se esconde em gabinetes cercados de escândalos, denúncias e investigações. São Francisco do Conde agoniza, e cada gesto da comunidade expõe ainda mais a falência de uma gestão que já não governa.











