O histórico político do prefeito de São Francisco do Conde, Antônio Calmon, é marcado por gestões polêmicas, denúncias reiteradas e tentativas de escapar da responsabilização judicial, a ponto de se tornar referência negativa em grandes veículos de imprensa do país. Reportagem da Folha de São Paulo, assinada pelo jornalista Frederico Vasconcelos, relembra que Calmon construiu uma trajetória atravessada por processos, suspeitas e decisões judiciais que remontam a décadas, um passado que hoje, diante do que vem sendo revelado, parece pequeno perto da gravidade dos fatos atuais.
A Folha recordou que, em 2004, Calmon foi reeleito mesmo figurando na lista de prefeitos investigados pela Controladoria-Geral da União, sob suspeita de desvio de recursos federais. À época, o município virou símbolo nacional do descontrole administrativo, com contratos superfaturados em até 2.108%, licitações fraudadas, pagamentos por produtos jamais entregues, gastos milionários com locação de veículos de luxo usados por familiares e até despesas absurdas com materiais sem finalidade comprovada. O prefeito chegou a ser afastado em 2005, teve condenação em primeira instância, suspensão de direitos políticos e multa, mas se valeu da morosidade do sistema e de mudanças na Lei de Improbidade para reverter decisões e evitar a devolução de milhões aos cofres públicos. Em uma das sentenças, um juiz federal foi categórico ao afirmar que não era crível que o prefeito desconhecesse os desvios sob sua administração.

Tudo isso, porém, virou fichinha diante do que São Francisco do Conde vive hoje. No atual mandato, Calmon governa uma das cidades mais ricas da Bahia em royalties do petróleo, mas mergulhou o município em uma crise social, administrativa e institucional sem precedentes. As novas denúncias reveladas pelo Jornal Candeias e outros veículos mostram um cenário muito mais amplo e preocupante: salários atrasados, ameaça de demissão em massa para não pagar décimo terceiro, paralisação total do transporte público, universitários perdendo semestres, fechamento de unidades de saúde, abandono de escolas e o descumprimento reiterado de decisões judiciais, como no caso do programa Pão na Mesa, que deixou milhares de famílias sem alimento por mais de um ano.
Paralelamente ao colapso dos serviços, avançam investigações sobre contratos milionários e relações perigosas entre empresas fornecedoras da prefeitura e familiares do prefeito. Apurações apontam cruzamento de pagamentos envolvendo operadores investigados na Operação Overclean, empresas de limpeza urbana, contratos suspeitos e transferências financeiras que levantam a hipótese de desvio e lavagem de dinheiro. Vieram à tona ainda gastos superiores a R$ 5 milhões em combustíveis, mesmo com a frota de transporte fora de circulação, contratos de lavagem de veículos que somam mais de R$ 600 mil, e a exclusividade de fornecimento concentrada em empresas ligadas a parentes de integrantes do alto escalão do governo.
O contraste social atingiu o ápice com a revelação de patrimônios ligados à família Calmon, incluindo fazendas de alto padrão com cavalos milionários, tratados com luxo extremo, baias climatizadas e alimentação sofisticada, enquanto a população enfrenta fome, desemprego e desassistência. Também surgiram informações sobre expansão de negócios da família em redes de fast food, salões de beleza, empresas de serviços e outras atividades, algumas delas sob investigação por possível uso como instrumentos de lavagem de recursos públicos. Tudo isso, vem sendo monitorado por uma investigação, que colocará em breve, São Francisco do Conde conhecida como o maior escândalo de corrupção em uma prefeitura do Brasil.
Fontes ouvidas pelo jornal descrevem um ambiente administrativo em colapso, com fornecedores sem receber, secretarias paralisadas, vereadores sob pressão e uma base política em frangalhos. O padrão do silêncio, já apontado pela Folha de São Paulo no passado, repete-se agora diante de denúncias ainda mais graves e de investigações que avançam para esferas federais. Entre reeleições expressivas e escândalos cada vez maiores, a trajetória política de Antônio Calmon segue obedecendo a um roteiro conhecido: poder, denúncias, corrupção, enriquecimento de poucos e ausência de explicações.
A diferença é que, desta vez, o tamanho das revelações e o sofrimento imposto à população fazem ecoar uma pergunta que já não se limita aos tribunais locais: até quando o povo de
São Francisco do Conde continuará pagando o preço da impunidade?












