A investigação que avança sobre o governo do prefeito Antônio Calmon ganhou novos e robustos elementos e começa a desenhar o que investigadores já classificam como um dos maiores escândalos da história de São Francisco do Conde. A investigação aprofundou os cruzamentos financeiros envolvendo empresas que recebem recursos da Prefeitura e transferências a negócios ligados diretamente à família do prefeito, apontando para um possível esquema de desvio de recursos públicos, corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro.
No centro das novas apurações está a empresa CNRG Serviços e Fornecimentos, registrada em nome de Crisley Neves dos Reis Guimarães, CNPJ 13.545.186/0001-06, localizada na Rua Policarpo de Oliveira, no centro da cidade. A empresa mantém quatro contratos firmados com a Prefeitura em 2021 de nº 057, 058, 059 e 060cujo objeto oficial é a prestação de serviços de lavagem e higienização dos veículos próprios e locados. Na prática, segundo documentos analisados e que passaram a ser foco de outra linha da investigação a empresa funciona como um verdadeiro “lava-dinheiro” da gestão, já que é impossível um gasto tão vultoso em um município onde serviços essenciais estão praticamente paralisados.
Os valores pagos chamaram a atenção imediata dos investigadores, pelos valores e pela suposta ligação do esposo da dona da empresa, apontado como suposto sócio oculto do filho do prefeito. Apenas entre 2022 e 2025, os repasses somam R$ 623.839,76, distribuídos da seguinte forma: R$ 141.246,00 em 2022; R$ 217.205,81 em 2023; R$ 176.793,72 em 2024; e R$ 88.594,23 em 2025. Para a investigação, trata-se de um montante considerado desproporcional diante da realidade do município, que enfrenta atraso salarial, colapso do transporte, suspensão de programas sociais e fome crescente.
Paralelamente, no último fim de semana a operação avançou no cruzamento de pagamentos realizados por empresas ligadas ao operador financeiro conhecido como “Papito ou Palito” a empresa Supernutre do empresário Erick Filgueiras com operações financeiras para empresas da rede de fast food em que é sócio com Polyana Calmon e Vinício, filha e genro do prefeito. Detalhes de transações já acessadas pela investigação revelam movimentações vultuosas de recursos, levantando a suspeita de que dinheiro público possa ter sido transferido indiretamente para empresas da família, o que configuraria crimes graves contra a administração pública. Diante disso, investigadores afirmaram que serão pedidas nas próximas horas quebras de sigilo bancário, com o objetivo de confirmar como os recursos da Prefeitura chegaram às empresas de fast food, que, segundo a linha investigativa, podem ter sido estruturadas exclusivamente para lavagem de dinheiro.
O avanço das apurações também passou a catalogar o rastro patrimonial da Fazenda Santo André, ligada aos filhos do prefeito. Investigadores passaram a cruzar dados financeiros com a compra de cavalos de raça adquiridos em dinheiro vivo em leilões realizados em Minas Gerais, alguns avaliados em valores milionários. Segundo apurado, essas operações estariam sendo intermediadas por um operador identificado como “Ueldo”, cuja empresa já estaria na mira do Ministério Público por contratos públicos em cidade vizinha. As revelações causaram indignação popular ao expor um contraste brutal: enquanto a população enfrenta fome, salários atrasados e o não pagamento do Pão na Mesa, surgem relatos de cavalos alimentados com maçã e pera, mantidos em baias climatizadas com ar-condicionado.
Fontes da investigação afirmam que o que vem sendo descoberto sobre o patrimônio de Calmon e de seus familiares, envolvendo contratos públicos, empresas fornecedoras, fast food, fazendas e compras em dinheiro vivo, pode se transformar em um escândalo ainda maior do que a histórica Operação Lava Jato, pelo volume de recursos e pela ousadia das transações. Investigadores relatam surpresa com o nível de exposição e a frequência de transferências financeiras entre empresas que recebem da Prefeitura e empresas da família, cenário que já motivou a preparação de novas medidas investigativas e a possibilidade concreta de uma nova operação em breve.
São Francisco do Conde entra, assim, em uma semana decisiva. O que antes parecia apenas denúncia política agora ganha contornos técnicos, bancários e documentais. Para a população, já exausta de sofrer, resta a expectativa de que a Justiça avance. Para quem acreditava estar acima da lei, o cerco começa a se fechar.












