São Francisco do Conde voltou ao noticiário nacional na noite desta sexta-feira ao ser apresentada pelo Jornal Nacional como a segunda cidade mais rica do Brasil em renda per capita, com valor aproximado de R$ 684 mil por habitante, ficando atrás apenas de Saquarema, no Rio de Janeiro. O dado, que em tese deveria representar prosperidade, qualidade de vida e serviços públicos eficientes, caiu como um choque para a população local, que viveu exatamente o oposto ao longo do último ano.
O paradoxo é brutal. Enquanto as estatísticas apontam São Francisco do Conde como a segunda mais ricas do país, o povo enfrentou salários atrasados, ameaça de demissões em massa, paralisação total do transporte público, estudantes perdendo aulas e semestres, unidades de saúde em colapso, obras do hospital paralisadas, fechamento de serviços básicos e o corte de programas sociais essenciais, como o Pão na Mesa, que deixou milhares de famílias sem o mínimo para se alimentar. A cidade rica dos números se transformou, na prática, em uma cidade pobre para quem vive nela.
O contraste se torna ainda mais revoltante diante das suspeitas de que a riqueza de São Francisco do Conde não chegou ao povo, mas ficou concentrada em núcleos familiares ligados ao poder. Ao longo do ano, vieram à tona denúncias e investigações que apontam para um suposto enriquecimento acelerado de familiares do prefeito Antônio Calmon, com expansão de negócios em áreas como fast food, fazendas, empresas de serviços, contratos públicos e patrimônio de alto valor, enquanto a cidade mergulhava no caos social. As suspeitas de uso indevido de recursos públicos, contratos direcionados, pagamentos cruzados e lavagem de dinheiro passaram a ser alvo de apurações, reforçando a percepção popular de que a segunda cidade mais rica do país teve sua riqueza apropriada por poucos, deixando a maioria da população à margem, sem direitos básicos e sem dignidade.
Ao longo do ano, moradores conviveram com ônibus fora de circulação, universitários sem condições de chegar às faculdades, pacientes aguardando atendimento em estruturas precárias, servidores humilhados pela incerteza do pagamento e comunidades organizando vaquinhas para suprir aquilo que deveria ser obrigação do poder público. Em paralelo, vieram à tona denúncias de contratos milionários, gastos elevados com combustíveis mesmo sem frota rodando, pagamentos vultosos a fornecedores específicos e a revelação de patrimônios privados que cresceram enquanto a cidade afundava.
O destaque no Jornal Nacional escancara uma verdade incômoda: riqueza não é sinônimo de justiça social. São Francisco do Conde arrecada cifras bilionárias em royalties do petróleo e impostos, mas essa riqueza foi retirada da mesa do povo, ao transporte dos estudantes, ao salário do servidor nem à dignidade das famílias mais pobres. Pelo contrário, o ano foi marcado pelo sofrimento coletivo em um município que, no papel, poderia ser exemplo nacional de políticas públicas eficientes.
Diante desse cenário, cresce o sentimento de revolta e impotência. A Câmara de Vereadores, apesar das inúmeras denúncias, não avançou com o processo de impeachment, deixando a população sem respostas políticas internas. O contraste entre a cidade “bilionária” exibida na televisão e a cidade real vivida nas ruas reforça um clamor cada vez mais forte: a necessidade de que a Justiça brasileira atue de forma firme e urgente. O ranking exibido em rede nacional não é motivo de orgulho; tornou-se prova do abismo entre arrecadação e realidade. E, para muitos franciscanos, a pergunta que permanece é direta e dolorosa: até quando a justiça vai permitir tanta vergonha para o povo de São Francisco do Conde?
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