Nos últimos cinco anos, a Bahia viu as internações por arritmias cardíacas saltarem de 2.982 para 4.552, um crescimento de 51,6%, segundo dados do DataSUS. No mesmo período, as mortes associadas ao distúrbio aumentaram 25,7%, passando de 530 em 2020 para 666 em 2024. Apenas nos três primeiros meses de 2025, 191 pessoas já morreram em decorrência de alterações no ritmo cardíaco.
As arritmias representam uma disfunção elétrica no coração, fazendo com que ele bata mais rápido (taquicardia), mais devagar (bradicardia) ou de forma irregular, como nos casos de fibrilação atrial, flutter ou extrassístoles ventriculares. Embora mais frequente em idosos, o distúrbio também tem atingido cada vez mais pessoas jovens, segundo especialistas.
Para o cardiologista Alexsandro Fagundes, presidente da Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas (SOBRAC), os números refletem o que ele define como uma “epidemia silenciosa”. “Vivemos mais, tratamos melhor doenças como o câncer, e isso contribui para o envelhecimento da população. Com o avanço da idade, aumentam também as chances de surgimento de arritmias”, explica.
Além do envelhecimento, há outros fatores que ajudam a explicar essa alta. De acordo com a cardiologista Marianna Andrade, coordenadora do Serviço de Cardiologia do Hospital Mater Dei Salvador, a modernização dos diagnósticos e o estilo de vida da população são determinantes.
“O uso de dispositivos como smartwatches tem ajudado as pessoas a identificarem irregularidades nos batimentos, o que leva a uma procura maior por atendimento médico. Soma-se a isso o aumento do consumo de álcool, cigarros, vapes e energéticos — todos fatores que contribuem para o surgimento das arritmias”, destaca a especialista.
Juventude em risco
As arritmias também estão aparecendo com mais frequência entre os mais jovens. Entre 2020 e 2024, as internações de pessoas entre 15 e 39 anos cresceram 34% na Bahia. Embora os dados da Secretaria Estadual de Saúde (Sesab) não detalhem as mortes por faixa etária, o cenário preocupa.
Entre os fatores de risco estão causas genéticas, doenças cardíacas congênitas e o abuso de substâncias como energéticos, álcool e cigarros eletrônicos — hábito cada vez mais comum entre adolescentes e jovens adultos.
“Eles estão sendo expostos mais cedo a gatilhos para doenças cardiovasculares. É um grupo vulnerável, com estilo de vida sedentário e alimentação pouco saudável”, alerta Marianna Andrade.
Um caso emblemático ocorreu em setembro de 2024, quando o zagueiro uruguaio Juan Izquierdo, de 27 anos, sofreu uma parada cardíaca durante uma partida entre São Paulo e Nacional de Montevidéu. A morte, atribuída a uma arritmia, chamou atenção para a importância do diagnóstico precoce — já que, muitas vezes, o distúrbio é silencioso até que ocorra um episódio grave.