Na Bahia, há datas que falam. Na última quarta feira , 2 de Julho, dia em que o povo rompeu grilhões e tirou os despotismos de suas portas, um sussurro percorreu corredores palacianos e becos de São Francisco do Conde. Dizem que o vento trouxe de Salvador para a velha cidade do Recôncavo um recado curto, mas pesado como bigorna: “é hora de recuar”.
O destinatário? Um jovem militante, que ousou sacudir o PT local, reunindo em torno de si vereadores, a juventude estudantil, trabalhadores e petistas históricos cansados da mesmice e que buscam a renovação do partido no PED do próximo domingo. Um jovem que aprendeu com o exemplo da saudosa ex-prefeita petista Rilza Valentim que cabeça erguida é princípio, não opção.
Mas o recado não veio de qualquer lugar. Veio do topo. De Ondina é o que dizem. Um pedido que se confunde com ordem, em nome de alianças de governo, para que jovem desista de seu caminho, e do novo PT, para abrir espaço para o deputado Rosemberg Pinto, líder do governo na Assembleia Legislativa, concorrer sozinho no PED, já que sonha plantar como presidente do PT uma semente para ser prefeito em 2028. Prefeito de terras que não pisa há tempos, enquanto reside em Lauro de Freitas ao lado de sua esposa, a secretária de educação Vanessa Dantas, que mesmo sendo petista, deixou de contribuir com o partido quando foi secretária, ficando impedida de votar e ser votada.
A voz do Ondina seria um sopro que exige silêncio, como se as urnas petistas de domingo precisassem ser tuteladas, como se o Recôncavo, celeiro de resistência, tivesse preço ou dono. Uma imposição feita no 2 de Julho, o dia em que a Bahia grita há mais de 202 anos contra tiranias e despotismos.
Mas São Francisco do Conde não esquece de onde veio. Foi aqui que a Bahia se firmou com suor de trabalhadores de refinarias e mulheres negras que não recuavam. Foi ali que Rilza do PT governou sem baixar a cabeça para ninguém. Foi ali que o partido se manteve vivo, mesmo quando outros desistiram.

O pedido de desistência do jovem, se atendido, seria um golpe mortal no espírito livre do PT sanfranciscano. Seria o dia em que o 2 de Julho seria traído no seu próprio solo. Onde a chama da democracia seria apagada. Se São Francisco do Conde e seu PT se calar agora, a história lembrará que a cidade que libertou seus escravos antes da Lei Áurea, foi a mesma que, em um 2 de Julho de 2025, abaixou a cabeça para imposições palacianas.
O vento continua soprando nas ladeiras da cidade. E cada militante petista saberá, ao apertar seu voto no próximo domingo, se prefere o sussurro dos palácios ou o grito das ruas. Porque em São Francisco do Conde, tirano nenhum pisa sem ser lembrado de que ali é o povo é quem manda.