A representante da associação quilombola de moradores, marisqueiras e pescadores de Ilha de Maré, Luana do Brasil Pinto, denunciou nesta segunda-feira (11), durante sessão na Câmara Municipal, a vereadora Eliete Paraguassu (Psol) por perseguição, homofobia e irregularidades administrativas nas comunidades de Porto dos Cavalos, Martelo e Ponta Grossa.
Luana, que é mulher trans, negra, marisqueira e pescadora, relatou que a vereadora, conhecida pelo bordão “mandato das águas populares”, teria negado vacina para os quilombolas durante o período da pandemia.
“Deixar o meu repúdio a vereadora do ‘mandato das águas populares’, porque há um certo tempo naquela comunidade a vereadora foi capaz de negar a vacina para os quilombolas. Aquela época era questão de vida ou morte, e a vereadora simplesmente decidia quem tomava vacina ou não, e sendo que os quilombolas também precisavam”, disse Luana.
A representante denunciou que, quase toda semana, oficiais de justiça chegam às casas dos pescadores e marisqueiras para intimá-los, com base em queixas da vereadora sobre supostas invasões e ameaças à família dela. “Aqui eu desafio a vereadora, a casa é monitorada por câmeras. Cadê essas imagens? Por que a vereadora está querendo fugir do foco?”, afirmou a representante.
Luana ressaltou que o verdadeiro processo envolve alteração irregular de documentos da associação, o que configura crime segundo o artigo 297 da Constituição Federal. Para desviar o foco, a vereadora teria apresentado queixas contra 15 pescadores, gerando perseguição contra a comunidade.
Outro ponto levantado foi a falta de transparência na prestação de contas da colônia de pescadores, da qual a vereadora já fez parte da coordenação.
“A colônia recebeu um milhão de reais e, ao pedir prestação de contas, dizem que gastaram com insumos contra a Covid, mas esses insumos não chegam aos pescadores e marisqueiras”, afirmou Luana.
Ela rebateu a versão da vereadora sobre ameaças durante manifestação que afirmou ter sido pacífica na Ilha de Bom Jesus. “A Polícia Militar acompanhou tudo e em nenhum momento houve perseguição ou ataques, muito menos ácido, como foi dito aqui”, declarou.
Luana chamou atenção para o baixo apoio eleitoral da vereadora nas comunidades que ela diz representar. “Em Ilha de Maré, a vereadora teve 181 votos, em Bom Jesus, 48, e em Paramana, apenas 2 votos. Ela não representa totalmente o povo das ilhas.”
Ainda durante o discurso, a representante afirmou que precisou instalar câmeras de segurança em sua residência, pois houve episódios de agressão contra sua mãe.
Ela alegou também ter sofrido homofobiadentro da comunidade, atribuindo parte dessas agressões à vereadora Eliete Paraguassu (Psol).
“Ela diz tanto que representa o grupo LGBT da Bahia. Uma mulher trans, marisqueira, negra e pescadora de Ilha de Maré. E vem sofrendo arduamente perseguição, homofobia, palavras de baixo calão pela família e pela própria vereadora”.
Por fim, Luana fez um apelo às autoridades. “É muito bonito na teoria, mas na prática são os pescadores e marisqueiras que estão sendo perseguidos e coagidos. Hoje eu estou aqui falando em nome das minhas comunidades, porque quando a gente sente a dor a gente tem que gritar. E eu peço a vocês que ajudem muito a nossa comunidade, porque quem está sofrendo repressão, retaliação todos os dias sou eu”, concluiu.