Na Bahia, sorte mesmo não é ganhar na loteria ou ser a pessoa da Nota Premiada. Isso aí, dependendo do ponto de vista, pode ser apenas uma ótima surpresa. Sorte, sucesso e benção, por aqui, é conseguir emitir a Carteira de Identidade Nacional (CIN). Quem já tentou sabe do que estamos falando. Tem gente fazendo promessas para São Longuinho, recorrendo a trabalhos espirituais e até se comprometendo a ficar semanas sem beber, tudo isso apenas para achar um horário disponível no SAC (Serviço de Atendimento ao Cidadão).
Era para ser simples, moderno e prático, afinal é a nova carteira de identidade. Acessar o site ou outro canal de atendimento do SAC, agendar um horário, comparecer a um dos postos, realizar o serviço e pronto. Era esse o esperado. Mas o problema é velho: horas e horas no site ou em ligações de atendimento e, ao final, a resposta: “não há datas disponíveis”. A reportagem tentou, na última semana, agendar e não encontrou data disponível em nenhum dos 13 postos do SAC em Salvador e em algumas unidades da Região Metropolitana.
Sem pressa
O discurso adotado pelo SAC é que a nova identidade não é urgente, pois só passará a ser exigida em fevereiro de 2032. “Portanto, há um prazo relativamente extenso para que todos possam se organizar sem haver correria aos postos”, diz um trecho da nota do SAC.
Mas, para muitos, a CNI é sim urgência e motivo de correria. Porque, apesar da legislação não impor validade, alguns órgãos e instituições privadas impõem um prazo de 10 anos para o documento, e a atualização em casos de avarias, desgastes e fotos antigas é obrigatória. Muitos concursos, vistos de viagens e até benefícios sociais exigem o documento dentro deste prazo e nessas condições.
O caso do estudante Jonathan de Jesus, por exemplo: ele precisava renovar o documento danificado para uma viagem, mas não teve fé que resolvesse. Depois de passar um mês tentando em todas as unidades do SAC em Salvador, a solução foi abrir um boletim de ocorrência de perda ou furto para justificar a ausência do documento. E ainda teve que ouvir de um funcionário que “a questão não é de agendamento, é sorte”. E olha que Jonathan apelou para um olho grego, figa, pé de coelho, mas não teve jeito.