“Gente é para brilhar e não para morrer de fome.” Usando a letra da música Gente, de Caetano Veloso, a vereadora Daoana Sales encerrou seu voto contra o projeto que reduziu o valor e o alcance do programa social Pão na Mesa, em São Francisco do Conde. A votação de ontem (23) ainda está sendo digerida pela comunidade, em um dos dias mais tristes da história política da cidade.

Nos bastidores do poder, o prefeito Antônio Calmon teria, segundo relatos de pessoas próximas, comemorado “sordidamente” o fato de ter dividido o desgaste político com os vereadores que votaram a favor do projeto, especialmente o atual presidente da Câmara, Nem do Caípe, responsável pelo voto decisivo. Calmon, que não costuma trabalhar, decidiu ir a São Francisco do Conde nesta sexta (24) apenas para expor o grupo responsável pelo chamado “pacote da maldade”.

A votação terminou empatada em seis votos contra e seis votos a favor, o que obrigou Nem do Caípe a desempatar. “Calmon garantiu a Nem que tinha sete votos e que ele não precisaria votar. Foi enganado por Calmon e acabou levado para o meio dessa tempestade”, revelou um assessor inconformado.

Quem acompanhava o prefeito durante a sessão afirmou que ele chegou a rir do empate, entendendo que o desgaste seria dividido. Em conversas reservadas, Calmon teria dito que não pretende disputar a reeleição e que “protegeu” Graice Tanferi, atual secretária de Saúde e vereadora licenciada, sua candidata à sucessão. O prefeito teria tentado blindá-la, já que sua força política vem se deteriorando após o chamado “pacote de maldade”.
A sessão que aprovou a redução do Pão na Mesa foi marcada por tensão e surpresa. Coube a Nem desempatar e ele o fez contra a população, tornando-se um dos rostos mais rejeitados da política franciscana. Em Caípe, sua base eleitoral, o clima é de revolta. Moradores o chamam de “traidor” e o responsabilizam pela destruição do programa social. “Nem acabou com o pão do povo e com o próprio nome”, disse um morador revoltado.
Enquanto Nem enfrenta o desprezo popular, a vereadora Lígia Costa Rosa foi amplamente elogiada por ter votado contra o projeto e por denunciar as incoerências da proposta, mesmo integrando a base governista. “Lígia mostrou o que é ter coragem. Ficou do lado certo da história”, afirmou o mototaxista João Santos.
Nas demais comunidades, o cenário é de rejeição e indignação com os vereadores que apoiaram o projeto. “Neguinho votou contra o povo. Aqui ninguém vai esquecer”, disse um morador de Santo Estevão. “Luís de Campinas traiu os pobres e agora quer viajar com diária de luxo”, comentou outro. “Pantera virou as costas pra São Bento, onde o povo vive do Pão na Mesa”, lamentou uma moradora.

Nas redes sociais, o vereador Pita de Gal foi um dos mais atacados. “Traidor da Jabequera”, escreveu um internauta. “Sandrinha da Pizzaria se dizia do social, mas mostrou que é do luxo”, ironizou uma vizinha. Pessoas próximas disseram à reportagem que a vereadora teve uma crise de choro ao chegar em casa. “Dona Nide Calmon elegeu ela vereadora e Calmon acabou de tirar ela do mandato”, lamentou uma ex-aliada.
Nos bairros de Muribeca e São Bento, a repercussão é intensa. Em Muribeca, onde Joinha e Lorena de Reizinho têm base, o contraste é claro. “Lorena de Reizinho não decepcionou e não traiu o povo da Muribeca e do Engenho de Baixo”, disse Letícia. “Joinha jogou na lama seu trabalho social e traiu a confiança de cada família que recebia o Pão na Mesa. Isso não será esquecido nunca”, afirmou Joana.
Outros nomes também foram lembrados pela população: Muriel, por manter a coerência, e Rafael Nogueira, por travar uma verdadeira batalha dentro da Câmara para expor as irregularidades desde a convocação até a votação final. Em São Bento, Fábio de Vanessa ganhou respeito ao votar contra o projeto, enquanto Pantera mergulhou no descrédito. “Fábio mostrou que tem caráter. Pantera esqueceu o povo”, resumiu uma moradora.
No fim, o que Calmon tentou transformar em estratégia política virou um efeito dominó de desgaste e descrédito. A suposta vitória virou derrota moral. E, enquanto ele comemora nos bastidores por ter “dividido o fardo”, a cidade inteira já sabe quem realmente ficou com o peso da vergonha.













