O programa Fantástico, da Rede Globo, divulgou novos detalhes de uma operação da Polícia Federal que investiga a fabricação e comercialização ilegal de uma substância usada em canetas emagrecedoras.
As investigações revelaram que o esquema envolveria um laboratório, clínicas em endereços nobres e até uma ilha paradisíaca na Bahia.
Um dos principais alvos da operação é o médico baiano Gabriel Almeida, que soma mais de 750 mil seguidores nas redes sociais e é conhecido por conteúdos sobre tratamento da obesidade. Ele se apresenta como escritor, palestrante, empresário e professor de médicos. Atende em clínicas de alto padrão e costuma se deslocar em jatinho particular.
O médico utilizava Tirzepatida, princípio ativo do medicamento Mounjaro, um dos mais vendidos do mundo para obesidade e diabetes.
No Brasil, apenas um laboratório tem autorização da Anvisa para comercializar a Tirzepatida em larga escala. A manipulação individual em farmácias especializadas é liberada, pois permite ajustes personalizados. No entanto, segundo a PF, essa regra não era seguida pelos investigados.
Ao todo, 24 mandados de busca e apreensão foram cumpridos em casas, clínicas e laboratórios ligados a Gabriel e a outros médicos envolvidos.
A Polícia também realizou buscas na sede do Laboratório Unikka Pharma, na Zona Sul de São Paulo, onde, segundo as investigações, eram produzidas e manipuladas as ampolas apreendidas. No local, foram encontrados milhares de frascos sem controle e sem rastreabilidade.
A PF afirma que Gabriel e outros médicos seriam sócios ocultos do laboratório.
Além da Tirzepatida, foram apreendidos anabolizantes, implantes hormonais e outros produtos manipulados em ambientes considerados irregulares para produção em larga escala.
Segundo a Polícia Federal, a Ilha de Carapituba, localizada a cerca de 40 minutos de barco de Salvador, era um dos bens de luxo de Gabriel Almeida, adquirida em consórcio com outras pessoas.
As investigações apontam que cursos de treinamento para médicos de todo o país eram realizados na ilha, onde eles aprendiam sobre o chamado “Protocolo de Emagrecimento”.
Segundo o delegado da Polícia Federal, Fabrízio Galli, “A ilha funcionava não apenas como um centro de estudos, mas também a apresentação dos produtos para que fossem vendidos para clínicas e laboratórios”.
A defesa do médico afirma que ele não é especialista em endocrinologia, mas possui pós-graduações reconhecidas pelo MEC.
O advogado Ricardo Cavalcanti afirmou ainda que o cliente reúne grupos na ilha para cursos, mas nega qualquer participação na fabricação dos medicamentos ou na Unikka Pharma. Segundo ele, o médico é apenas consumidor dos produtos do laboratório.
Em nota, a Unikka Pharma afirmou que: “Não fabricou ou fabrica, não comercializa e nunca comercializou o que ilusoriamente se intitulou ‘falso Mounjaro.'”
Disse também que: “Atende exclusivamente clínicas e profissionais médicos legalmente habilitados, sendo que jamais fez venda ao público geral ou varejo.”
A Anvisa informou que deu apoio técnico à identificação dos produtos, mas que a investigação corre sob sigilo judicial, cabendo à Polícia Federal a divulgação de informações.
