Coriza, tosse, obstrução das vias respiratórias. É assim que Luanna Sampaio, 32, descreve a infecção que contraiu no fim de maio. Na casa em que vive com o marido e o filho, todos apresentaram sintomas da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) por vírus Influenza ao mesmo tempo. A situação da família não é a única: só este ano, já são 331 casos de SRAG por influenza na Bahia. No mesmo período de 2022, o número era de 249; e, em 2021, foram 17 casos entre janeiro e junho. Os dados são da Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab).
Este ano, a Síndrome Respiratória Aguda Grave por Influenza foi verificada em 56 municípios, dos quais se destacam Salvador com 116 casos (44,44%), Vitória da Conquista com 21 (8,05%) e Feira de Santana com 20 (7,66%), de acordo com a Sesab. Quanto à faixa etária, a pasta afirma que o maior coeficiente de SRAG por influenza foi verificado em menores de um ano, com 18,97 casos a cada 100 mil habitantes, e entre um e quatro anos, com 6,43 casos a cada 100.000 habitantes. Já a maior letalidade ocorreu na faixa de 15 a 19 anos (36,36%).
No círculo de conhecidos de Luanna, outras pessoas também contraíram alguma síndrome respiratória ou gripal. “Minha irmã também teve o mesmo quadro de sintomas e a diarista que presta serviços na minha casa. Ambas frequentaram minha casa no período em que estávamos doentes”, diz.
A SRAG é uma doença respiratória altamente contagiosa e abrange casos de síndrome gripal (SG) que evoluem com comprometimento da função respiratória. Na maioria dos casos leva à hospitalização sem outra causa específica. Os agentes podem ser vírus respiratórios como o Influenza dos tipos A e B, Vírus Sincicial Respiratório, Sars-COV-2, bactérias e fungos. A transmissão ocorre a partir do contato com gotículas do ar e secreções de contaminados.
A síndrome pode ser identificada quando, além dos sintomas de uma gripe comum, o doente sente falta de ar ou desconforto para respirar, sensação de pressão no peito, saturação de oxigênio abaixo de 95% ou coloração azulada dos lábios ou rosto.
Marcelo Chalhoub, pneumologista e professor do curso de Medicina da Universidade Salvador (UNIFACS), explica que nem sempre os sintomas são facilmente percebidos. “O sintoma clássico é o desconforto respiratório ou mesmo falta de ar. Por vezes, só é identificado com uma boa avaliação clínica. Os pacientes às vezes não têm nem noção da gravidade”, diz.
Tradicionalmente, a chegada do outono traz uma onda de viroses, devido à mudança de tempo. Essas doenças sazonais de outono e inverno costumam se intensificar entre março e junho. “Essa época do ano sempre tem aumento das viroses. Como são variáveis, às vezes tem aumento da SRAG e aumento da letalidade. Atualmente, os casos graves de covid-19 têm sido mais exceção do que regra, enquanto os casos graves observados envolvem outros vírus: influenza e vírus sincicial respiratório”, acrescenta o pneumologista.
Outro risco aparente é a chamada ‘super virose’. Segundo o infectologista Fábio Amorim, o que a população descreve como uma virose superpoderosa é conhecida entre os especialistas como ‘suprainfecção’, que ocorre quando alguém apresenta mais de um agente infeccioso, fazendo com que os sintomas se misturem. Essa sobreposição dificulta o diagnóstico e a definição de qual tratamento será instituído prioritariamente.
A SRAG na Bahia
Além dos casos que acompanham a influenza, a Síndrome Respiratória Aguda Grave se manifesta também por outros agentes. Na Bahia, o total de ocorrências este ano, até o fim de maio, foi de 4.366.
Entre as classificações, a predominante é de SRAG não especificado, sem uma doença específica, com 2.048 casos. Em seguida vêm as situações causadas por outro vírus respiratório, que somam 997. As que ainda estão sendo investigadas somam 546.
O SRAG por covid-19, responsável por mais de 33 mil casos na Bahia em 2021 e mais de 5 mil em 2022, este ano não chega a 500 ocorrências: até agora, são 419 situações em todo o estado.
“Toda virose respiratória pode evoluir com algum percentual de SRAG. Isso acontece todo ano. O problema é que, às vezes, tem algum tipo de vírus que pode aumentar a incidência da SRAG, e aí vem logo um pânico, na maioria das vezes não justificado. A covid foi uma grande exceção”, afirma Marcelo Chalhoub.
Recomendações da Sesab
Com a quantidade crescente de casos de SRAG, a Sesab emitiu uma nota com recomendações acerca do aumento de casos em crianças:
“As medidas recomendadas se dividem em três vértices: a ampliação da cobertura vacinal, recomendações para as unidades de saúde e recomendações para a comunidade escolar e famílias.
A Sesab recomenda a ampliação do acesso à vacinação contra Influenza e Pneumocócica 10 valente, especialmente para as crianças em vulnerabilidade social, com implementação de estratégias mais efetivas para a descentralização dos pontos de aplicação das vacinas nos territórios onde as pessoas moram e para a busca ativa de não vacinados”, declara.
Além disso, a pasta indicou às unidades de saúde que tornem obrigatório o uso de máscara para pacientes acima de dois anos e seus acompanhantes ou visitantes para entrada acesso às dependências das unidades, disponibilização de máscara cirúrgica em caso de sintomáticos respiratórios e suspensão das visitas nas enfermarias e UTIs Pediátricas. Pai, mãe ou responsável legal pela criança não é considerado visita.
À comunidade escolar e às famílias, a Sesab recomendou a intensificação de medidas como higienização das mãos e impedimento de aglomerações, afastamento das escolas, creches e similares de crianças com sintomas até que se perceba melhora dos sintomas gripais, evitar que crianças frequentem ambientes fechados passíveis de aglomeração quando estiverem gripadas e ter atenção à presença de sinais e sintomas gripais entre trabalhadores da comunidade escolar, que deverão ser afastados do ambiente escolar caso haja suspeita de estar com Influenza e/ou Covid-19.
Na nota divulgada, o órgão afirma ter feito ajustes para receber pacientes pediátricos com casos de síndromes respiratórias. “Em Salvador, o Instituto Couto Maia (ICOM), o maior e mais moderno hospital especializado em doenças infectocontagiosas do Brasil, recebeu outros seis leitos de UTI Pediátrica. (…) A Sesab ainda determinou que a UTI Pediátrica do Hospital Materno-Infantil Dr. Joaquim Sampaio (HMIJS), em Ilhéus, passe a receber, por tempo indeterminado e via Sistema de Regulação, somente pacientes com que apresentem sintomas de SRAGs, a fim de operar de forma mais resolutiva no atual cenário epidemiológico”, completa.
Unidade municipal oferece 22 leitos para casos graves
Em abril deste ano, um equipamento de saúde especializado em síndromes gripais foi inaugurado em frente à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) dos Barris. A estrutura atende exclusivamente pacientes com síndromes graves e oferece 10 leitos de observação, dois de sala vermelha e outros 10 clínicos. O funcionamento da chamada ‘Upinha’ ocorre em regime 24 horas.
A vice-prefeita e secretária municipal de Saúde, Ana Paula Matos, explicou que a ação é preventiva: “De abril a junho acontece um pico, o aumento de procura da estrutura em função das questões respiratórias associadas ao período das chuvas. Essa unidade é para dar mais conforto ao paciente e evitar a propagação de vírus. Se alguma outra UPA tiver a necessidade de transferir alguém e não tiver vaga, o paciente poderá ser transferido para cá, se for caso de síndrome respiratória. Isso protege a todos, é mais uma barreira sanitária que evita a contaminação”, afirma.
Na prática, quando um paciente que estiver com sintomas gravez procurar a UPA dos Barris, ele será direcionado para a Upinha, onde receberá atendimento especializado. O ambiente tem consultórios médicos, de acolhimento e classificação de riscos, sala de coleta de exames e de testagem para a covid-19. Ela é administrada pela Fundação José Silveira, que também gere a UPA dos Barris, e vai funcionar durante o período de maiores ocorrências das síndromes gripais e respiratórias graves. O investimento é de R$ 850 mil mensais.