Um dos apelidos mais falados do último fim de semana, Geleia (Fábio Souza dos Santos), de 34 anos, tem sido protagonista de uma história que daria um verdadeiro filme de ação, se não fosse um triste retrato do submundo do tráfico.
Geleia foi um dos sete fugitivos do presídio Lemos Brito, no Complexo Penitenciário Mata Escura, no início da tarde do último sábado (21). Ele fugiu junto com alguns dos comparsas que faziam parte da facção criminosa (BDM) que ele liderava na região de Abrantes, em Camaçari, e Candeias.
Geleia hoje responde a dois processos e é investigado em sete inquéritos, a maior parte deles por tráfico de drogas, associação para o tráfico e homicídio. São pelo menos cinco mortes imputadas pela polícia e pela Justiça ao traficante. Entre elas, a do policial civil Luiz Alberto dos Santos, em Abrantes. À época, a vítima era investigador da delegacia de Abrantes, um dos principais pontos de atuação de Geleia.
Na extensa ficha do, hoje, um dos criminosos mais procurados do estado, está um inquérito aberto em 2021 por corrupção ativa. Conhecido por tentar subornar agentes públicos, em 2017 ele também foi acusado de oferecer 160 mil reais, ao ser preso em uma mega operação da Secretaria de Segurança Pública. O caso veio à tona quando Geleia foi preso, já em agosto de 2018, na cidade Míngua Guazú, no Paraguai, na Fronteira com o Brasil. Na época, a polícia civil afirmou que ele estava trazendo drogas e armas para a Bahia. Porém, hoje, fontes seguras da segurança pública dizem que o traficante teria uma empresa de importação de produtos do Paraguai, vendidos em Feira de Santana, na Feiraguai. E essa seria uma das formas em que Geleia lavaria o dinheiro do tráfico.
Chama atenção, então, que, apesar de não responder por tráfico internacional de drogas, essa seria uma das atuações de Geleia. O poderio dele dentro da facção é comprovado com a operação da polícia civil nesta terça-feira que desarticulou um bunker em Candeias. Lá foi encontrada meia tonelada de entorpecentes.
também descobrimos com exclusividade que o sítio onde estava a droga pertence ao sogro de Geleia e que uma das pessoas presas na ação foi a esposa do traficante. O nome dela ainda não foi revelado. O local era totalmente monitorado por câmeras e, por isso, eles conseguiram ver o momento de chegada da polícia. Na ação, além de um policial baleado, foi morto um dos fugitivos do presídio no sábado, Jefferson Silva Souza, de 28 anos.
O outro bandido que fugiu da penitenciária e foi morto em combate com a polícia, Elivelton de Jesus Santos seria o braço direito de Geleia. Pelo menos dois dos fugitivos trabalhariam para o traficante. O que mostra que é de se questionar a afirmação do secretário de Administração Penitenciária e Ressocialização (SEAP) de que Geleia estava ali coincidentemente, viu a situação e decidiu fugir também. O secretário afirma que a transferência dele no dia 13 de outubro, do Conjunto Penal Masculino, um dos prédios mais seguros do Complexo, para o presídio Público Lemos Brito, não teria nada a ver com a fuga.
Esta coincidência seria mais uma ligada à facção da qual Geléia faz parte. No final de setembro, o fundador da facção, Ednaldo Freire Ferreira, conhecido como Dada, teve a prisão preventiva convertida para prisão domiciliar, durante um plantão judiciário. O caso chamou atenção e o desembargador Luiz Fernando Lima, responsável pela decisão, foi afastado enquanto corre a investigação administrativa do Conselho Nacional de Justiça. Com dois dos principais integrantes do BDM nas ruas, os olhares voltam-se para os pontos de vendas de drogas.
A saída dos dois traficantes seria estratégica para a facção que perdeu território para o Comando Vermelho. De acordo com especialistas em segurança pública, a Bahia tornou-se ponto importante no tráfico nacional e internacional de drogas, por fazer ligação do Sudeste para outros estados do Nordeste. Parte da droga é escoada pelos portos da região para outros países, em especial para a Europa.
