A crítica à necessidade de grades em pontes são uma questão de segurança e podem ser feitos sem despertar gatilhos ao suicidio.
A recente imagem de uma política da cidade de Candeias indicando locais onde quem passa por problemas possa cometer suicídio causou uma grande polêmica nas redes sociais. Em um vídeo divulgado no Instagram, a política referiu-se a um local como um “trampolim para a morte”, para criticar a falta de grades de proteção. A afirmação gerou críticas de especialistas e levantou questionamentos sobre a responsabilidade na comunicação pública e política. Chamar atenção para locais onde pode se consumar atos é criticada por conta de poder desencadear o “efeito Werther”. Quem precisa de ajuda pode ligar 24 horas para o 188.
Cientistas e psicólogos renomados expressaram preocupação com a declaração da política. Dr. Carlos Mendes, psicólogo especializado em saúde mental, destacou: “Abordar o suicídio de maneira sensacionalista pode ser extremamente prejudicial. Pessoas que estão em sofrimento psicológico não são levadas ao ato pelo local, mas pela falta de acompanhamento e tratamento adequados.” Na Câmara dos Deputados está em tramitação o Projeto de Lei 1970/23 que proíbe falas desse tipo com o objetivo de desencorajar a prática e evitar sua glamorização.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) orienta que o tratamento de temas como o suicídio deve ser feito com extremo cuidado. “A mídia e os líderes públicos têm um papel crucial na prevenção do suicídio, evitando termos e abordagens que possam incentivar comportamentos de risco, além de indicar locais onde que enfrente esses transtornos possam se encorajar,” afirma Dra. Laura Rodrigues, psiquiatra e especialista em prevenção ao suicídio. “O termo ‘trampolim para a morte’ é imprudente e pode estigmatizar ainda mais aqueles que já estão vulneráveis.”
Jornalistas também se manifestaram sobre o tema. Mariana Lima, jornalista especializada em saúde, comentou: “A cobertura de casos de suicídio deve ser feita com uma responsabilidade tremenda. Sabemos que a forma como reportamos pode influenciar comportamentos de outros. É essencial evitar termos que possam ser vistos como glamorização ou incentivo ao ato.”
Dados globais mostram que a forma inadequada de abordar o suicídio pode levar ao aumento de casos. O “efeito Werther”, fenômeno onde a divulgação de suicídios ou de locais para incentivo dos mesmos que pode inspirar outros, é amplamente documentado.
A crítica à necessidade de grades em pontes são uma questão de segurança e podem ser feitos sem despertar gatilhos ao suicidio. “É possível debater melhorias sem recorrer a declarações alarmistas,” argumenta Mariana Lima. “O foco deve estar em proporcionar apoio psicológico e tratamento adequado, que são as verdadeiras soluções para prevenir o suicídio.”
A declaração da política sobre um local sublinha a necessidade de uma abordagem mais cuidadosa e informada ao tratar de temas sensíveis como o suicídio. Em tempos de crescente preocupação, principalmente após a COVID 19 com a saúde mental, é fundamental que líderes e figuras públicas sejam responsáveis em suas declarações, promovendo debates construtivos e seguros que realmente beneficiem a comunidade.
Porque evitar?
Esse é um caso clássico do Efeito Werther. Werther é um personagem de um livro de Goethe, que é um escritor alemão famoso, com aquela visão romântica do século XIX. Werther teve uma desventura amorosa e, por amor, se mata. Houve uma epidemia de suicídio, na Europa, a partir do caso desse livro. As pessoas se matavam da mesma forma, segurando o livro, usando a roupa do personagem… Percebeu-se a importância dessa abordagem. Outro exemplo clássico envolve o metrô de Viena (Áustria). As pessoas estavam se jogando na linha do trem. A mídia cobria isso o tempo todo, e os casos foram se multiplicando, cada vez mais, até que houve um acordo da mídia para não fazer mais divulgação desses casos.